Um recente levantamento dos diagnósticos laboratoriais de quadros entéricos em suínos durante as fases de creche e terminação revelou desafios significativos que afetam tanto a saúde quanto o desempenho dos animais. As infecções por Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC) e Salmonelose entérica são os principais problemas enfrentados.
De acordo com Marcos Antonio Mores, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, especialista em Sanidade Animal e analista na Embrapa Suínos e Aves, as infecções por E. coli são mais prevalentes nas primeiras duas semanas após o desmame. “Este período é particularmente desafiador devido à transição abrupta da alimentação líquida para a ração sólida, resultando em maior vulnerabilidade dos suínos. Além disso, outros desafios entéricos como rotavirose e coccidiose podem ocorrer, embora sejam menos frequentes e geralmente observados na primeira semana de vida”, explica Mores.
Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado entre os dias 23 e 25 de julho, no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, Mores destacou que os desafios persistem em animais nas fases de crescimento e terminação, especialmente por Colibacilose, até na faixa dos 80 a 90 dias de idade. A ileíte suína, causada pela bactéria intracelular Lawsonia intracellularis, é outra preocupação relevante.
A Salmonelose entérica também representa um desafio significativo durante as fases de crescimento e terminação. “Essas doenças comprometem a saúde dos animais, resultando em um desequilíbrio na microbiota entérica, conhecido como disbiose. Esse desequilíbrio afeta o sistema digestivo e compromete a imunidade dos suínos, tornando-os suscetíveis a outras condições clínicas”, explica Mores. A disbiose prejudica a absorção de nutrientes, impactando negativamente os índices zootécnicos, como a conversão alimentar e o ganho de peso, e frequentemente aumentando as taxas de mortalidade.
Os agentes patogênicos mais comuns associados aos desafios entéricos em suínos durante as fases de creche e terminação incluem Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC), Salmonella Typhimurium, Salmonella Typhimurium monofásica e Lawsonia intracellularis. A transmissão desses agentes ocorre principalmente via feco-oral, com os suínos suscetíveis se infectando ao entrar em contato com fezes contaminadas de animais doentes. Ambientes limpos e desinfetados de forma inadequada entre lotes podem atuar como fontes de infecção, juntamente com roedores e moscas.
Os principais sintomas clínicos variam de acordo com a doença específica. Na Colibacilose, os suínos podem apresentar diarreia líquida grave, desidratação rápida e perda de peso. Na doença do edema, podem ocorrer mortes súbitas ou sinais nervosos como andar cambaleante e edema de pálpebras. Na Salmonelose, os suínos podem apresentar diarreia líquida ou cremosa, desidratação, redução do consumo de alimento e febre em casos graves. Nas infecções por Lawsonia intracellularis, os suínos podem apresentar diarreia sanguinolenta, fezes cremosas e perda de peso, com formas subclínicas impactando negativamente os índices zootécnicos.
Para minimizar os desafios entéricos, uma abordagem integrada de manejo e prevenção é essencial. Segundo Mores, é fundamental desmamar leitões mais pesados e saudáveis, garantir um bom manejo durante o parto e fornecer colostro adequadamente. “A idade ideal de desmame é de pelo menos 21 dias, preferencialmente entre 23 a 24 dias, permitindo que os leitões tenham um sistema imunológico mais desenvolvido para lidar com a transição para a alimentação sólida”, ressalta Mores.
Estimulando o consumo de ração antes do desmame, práticas de manejo de lotes como o sistema todos dentro todos fora, e a limpeza adequada das instalações entre lotes são fundamentais para interromper o ciclo de infecção. Além disso, é crucial implementar medidas de biosseguridade externa, como o controle de insetos e roedores.
A vacinação é uma ferramenta importante no controle de doenças entéricas, com vacinas disponíveis para patógenos como Lawsonia intracellularis e Salmonella Typhimurium. O uso de aditivos alimentares, como ácidos orgânicos, prebióticos e probióticos, oferece alternativas aos antibióticos e ao óxido de zinco, que estão sujeitos a restrições de uso. “Combinando essas estratégias de manejo, prevenção e controle, é possível reduzir significativamente os desafios entéricos, melhorando a saúde e o desempenho dos suínos durante as fases críticas de creche e terminação”, conclui Mores.