Biosseguridade na bovinocultura leiteira: qual a sua importância?

Afinal, por que a biosseguridade é tão essencial na bovinocultura leiteira? Antes de responder a essa questão, é fundamental compreender o conceito do termo. A biosseguridade refere-se a um conjunto de normas e procedimentos destinados a prevenir a introdução e minimizar a disseminação de agentes infecciosos em sistemas de produção animal.

Essas medidas não apenas preservam a sanidade dos rebanhos, mas também impactam diretamente a saúde pública. Isso ocorre porque a saúde animal e a saúde humana são interdependentes e inseparáveis, compondo um mesmo ecossistema sanitário, conhecido como Saúde Única.

A título de conhecimento, biosseguridade e biossegurança são termos semelhantes, mas não sinônimos, sendo geralmente empregados de forma inadequada.

A biosseguridade refere-se à saúde animal, enquanto a biossegurança, por sua vez, remete a saúde humana. Por mais que haja estas diferenças, o que realmente importa no final é o objetivo único e igualitário de ambos os termos, que é de garantir o equilíbrio saudável da tríade epidemiológica ambiente, agente e hospedeiro.

Implementar e assegurar processos com biosseguridade é um ponto fundamental na pecuária leiteira. Afinal, qualquer variação capaz de desestabilizar a tríade epidemiológica possui grande potencial para comprometer o desempenho dos animais e, como consequência, os resultados financeiros e econômicos da propriedade.

Biosseguridade desde as fases iniciais de vida dos bezerros

Por se tratar de uma área importante que envolve riscos biológicos, a biosseguridade deve ser abordada com cuidado e atenção desde as fases iniciais de vida dos animais.

Um exemplo clássico é o de limpeza, desinfecção e vazio sanitário das instalações das bezerras em aleitamento.

Exemplo de vazio sanitário em bezerreiro tropical. (Fonte: Bruno Guimarães, Técnico Equipe Leite Rehagro)

A cada vez que uma bezerra é desmamada ou deixa o aleitamento por motivos que não o desmame, o recomendado é que o local onde essa bezerra estava passe por um processo rigoroso de limpeza e desinfecção, ficando sem receber novos animais durante um determinado período, cumprindo o vazio sanitário.

Outro exemplo bastante presente na rotina das fazendas leiteiras é o de limitar o acesso de pessoas externas ao setor das bezerras. Caso não haja esse controle, maior é o risco das pessoas levarem agentes patogênicos externos aos animais jovens, podendo desequilibrar a saúde e desenvolver surtos de doenças e distúrbios, como diarreia, por exemplo.

O ideal é que somente as pessoas e os colaboradores que lidam rotineiramente com as bezerras tenham contato com elas.

No entanto, não basta apenas limitar o acesso ao setor. Outras medidas mais rigorosas podem e devem ser aplicadas, como é o caso da limpeza, higiene e desinfecção das botas dos colaboradores, por serem potenciais meios de veiculação de microrganismos de outros setores da fazenda.

Biosseguridade na bovinocultura leiteira: Controle do rebanho e da entrada de animais externos à fazenda

Várias são as propriedades que optam pela estratégia de compra de animais para crescerem e evoluírem o rebanho. Entretanto, um ponto que nem todas essas fazendas que optam por essa estratégia realizam é a pesquisa e identificação de animais portadores de agentes patogênicos específicos causadores de doenças extremamente relevantes, como é o caso de brucelose, tuberculose, tripanossomose e mastite por Staphylococcus aureus, por exemplo. Abaixo seguem as definições e algumas orientações:

Brucelose e tuberculose

Brucelose e tuberculose são importantes zoonoses que possuem um regulamento federal de controle e erradicação, conhecido como Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT).

Todos os animais já presentes no rebanho da fazenda devem ser monitorados para as duas zoonoses em uma frequência mínima de uma vez ao ano. Além disso, todos os animais oriundos de compra também devem ser monitorados para brucelose e tuberculose antes de entrarem em contato com o rebanho já existente na fazenda.

Vale ressaltar que a brucelose é uma doença que possui vacinação e, logo, a recomendação é de que os animais adquiridos sejam, além de testados e negativos, vacinados. Aqueles indivíduos reagentes e positivos nos exames de brucelose e tuberculose devem deixar o rebanho o mais rápido possível para que não infectem os demais.

Realização de exame de tuberculose. (Fonte: Bruno Guimarães – Técnico Equipe Leite Rehagro)

Triponossomose bovina

tripanossomose bovina consiste em uma doença que teve o seu primeiro relato descrito no Brasil por volta da década de 1970, sendo que nos últimos anos vêm apresentando um volume ascendente de notificações, talvez pela maior abrangência de diagnóstico nos rebanhos e conscientização dos produtores.

Esta enfermidade é veiculada principalmente pelo uso compartilhado de materiais perfurocortantes entre um animal portador/doente e um animal saudável, como agulhas, por exemplo, e pelo repasto de insetos hematófagos, como moscas e mutucas.

A sua ocorrência geralmente ocorre na forma de surtos, levando a prejuízos extensos aos animais e a propriedade. Construindo uma estimativa da magnitude dos prejuízos, surtos de tripanossomose em um rebanho possuem potencial de reduzir a produção de leite entre 40 e 60% de forma excessivamente rápida, sendo que a taxa de mortalidade fica por volta de 10 a 20%.

O uso compartilhado de agulhas de ocitocina é extremamente eficiente na veiculação do Trypanossoma vivax, agente causador da tripanossomose bovina. Logo, fazendas que fazem o uso de ocitocina nas vacas devem optar pelo uso individualizado de agulhas e seringas.

Sabendo da agressividade da doença e das suas principais formas de disseminação, fica mais claro sobre quais decisões tomar para aumentar a biosseguridade em relação a tripanossomose, além da realização do exame de identificação do patógeno caso o rebanho seja suspeito.

Outro ponto de grande atenção no momento da compra de animais e que comumente passa despercebido é a realização de cultura microbiológica do leite das vacas para identificar patógenos contagiosos causadores de mastite, como é o caso do Staphylococcus aureus.

A mastite causada por esta bactéria não é responsiva a tratamentos e é capaz de acometer grande parte do rebanho caso nada seja feito, devido ao seu caráter contagioso. Além de prejudicar a saúde dos animais, as vacas infectadas produzirão menos leite, sendo também um leite de menor qualidade.

Saúde da glândula mamária, qualidade do leite e biosseguridade na pecuária leiteira

Conforme comentado há pouco, é de grande importância o monitoramento das vacas por meio de cultura microbiológica do leite quanto a possíveis infecções por Staphylococcus aureus na glândula mamária. No entanto, este monitoramento não se resume apenas aos animais oriundos de compra e ao agente S. aureus.

O ideal é que a fazenda possua processos padronizados de acompanhamento da saúde da glândula mamária de todas as vacas do rebanho, monitorando casos específicos (pós-parto, presença de grumos, CCS elevada etc.) por meio de cultura microbiológica do leite para identificação de patógenos relevantes (S. aureusStreptococcus agalactiaeMycoplasma spp. etc).

É essencial que tais processos sejam elaborados corretamente e seguidos à risca no intuito de evitar que determinado agente patogênico saia do controle, aumente sua taxa de infecção e comprometa a saúde e o desempenho dos animais.

A biosseguridade no setor de ordenha não para por aí. É importante pensarmos também na integridade dos ordenhadores.

Uma ação de grande relevância e impacto, tanto na saúde humana quanto na saúde animal, é o uso de luvas por parte dos colaboradores responsáveis.

Além de evitar a disseminação de patógenos contagiosos presentes nas mãos dos ordenhadores para as vacas, as luvas também evitam que determinadas zoonoses sejam transmitidas aos humanos, como é o caso da varíola bovina.

O contato das mãos desprotegidas dos ordenhadores com as possíveis lesões cutâneas específicas da doença presentes nos tetos de vacas infectadas podem transmitir o vírus causador da enfermidade.

Uso de luvas para ordenha de vacas. (Fonte: Fazenda Barreiro Alto, cliente Grupo Rehagro)

Garantindo a biosseguridade na pecuária em sua propriedade!

Garantir a biosseguridade é um dever de todos, independente da atividade desenvolvida. Um conceito que sempre deve estar em mente é que aspectos relacionados à saúde animal e a saúde humana sempre remetem a saúde única. Ou seja, desequilíbrios na saúde animal podem interferir na saúde humana e vice-versa.

Olhando para pecuária leiteira porteira pra dentro, ações que garantem a biosseguridade do rebanho sempre devem estar em foco, desde os animais mais jovens até os animais mais velhos.

Um plano de biosseguridade bem pensado e implementado é uma segurança a mais de que os animais terão condições mais favoráveis de expressarem bons desempenhos, retornando melhores resultados para a fazenda.

Perguntas frequentes sobre biosseguridade na bovinocultura leiteira

1. O que é biosseguridade na bovinocultura leiteira?

Biosseguridade refere-se ao conjunto de normas e procedimentos voltados para prevenir a introdução e reduzir a disseminação de agentes infecciosos em sistemas de produção animal. Seu objetivo é proteger a saúde dos rebanhos e, consequentemente, a saúde pública.

2. Qual a diferença entre biosseguridade e biossegurança?

Embora sejam conceitos semelhantes, a biosseguridade está focada na sanidade animal, enquanto a biossegurança diz respeito à proteção da saúde humana. Ambos têm o mesmo propósito: garantir um equilíbrio saudável entre ambiente, agente e hospedeiro.

3. Por que a biosseguridade é tão importante na pecuária leiteira?

A implementação de boas práticas de biosseguridade previne doenças que podem comprometer a produtividade e gerar prejuízos econômicos. Além disso, reduz a necessidade do uso excessivo de antibióticos e evita surtos que impactam a segurança alimentar.

4. Como aplicar a biosseguridade desde as fases iniciais da vida dos bezerros?

Algumas medidas essenciais incluem:

  • Limpeza e desinfecção rigorosa das instalações dos bezerros.
  • Vazio sanitário entre lotes de animais.
  • Controle do acesso de pessoas ao setor das bezerras.
  • Higienização de botas e equipamentos utilizados pelos colaboradores.

5. Como evitar a entrada de doenças com a compra de novos animais?

Antes de introduzir um novo animal ao rebanho, é fundamental:

  • Testá-lo para doenças como brucelose e tuberculose.
  • Certificar-se de que foi vacinado conforme as normas sanitárias.
  • Monitorar a saúde do animal antes de integrá-lo ao grupo.

6. O que é o vazio sanitário e qual sua importância?

O vazio sanitário é o período em que um espaço fica desocupado entre a saída de um lote de animais e a entrada de novos, permitindo a eliminação de microrganismos nocivos. Esse procedimento reduz a disseminação de patógenos e melhora a saúde dos rebanhos.

7. Quais doenças são controladas pela biosseguridade na pecuária leiteira?

Dentre as principais doenças, destacam-se:

  • Brucelose e Tuberculose: zoonoses regulamentadas por programas de controle federal.
  • Tripanossomose bovina: doença transmitida por insetos e pelo compartilhamento de agulhas.
  • Mastite por Staphylococcus aureus: altamente contagiosa e de difícil tratamento.

8. Como a mastite pode ser evitada nas fazendas leiteiras?

A prevenção da mastite inclui:

  • Monitoramento das vacas por meio de exames microbiológicos.
  • Uso individualizado de agulhas e seringas.
  • Higienização correta das mãos e uso de luvas durante a ordenha.
  • Controle de acesso e manejo adequado dos animais doentes.

9. De que forma a biosseguridade protege os ordenhadores?

Além de reduzir a transmissão de doenças entre os animais, a biosseguridade também protege os trabalhadores, prevenindo o contato com patógenos que podem causar zoonoses, como a varíola bovina. O uso de luvas e a higienização adequada são práticas essenciais.

10. Como implementar um plano eficaz de biosseguridade na fazenda?

Para garantir a sanidade do rebanho e a segurança dos trabalhadores, é fundamental:

  • Desenvolver protocolos de controle sanitário e treinamentos para a equipe.
  • Monitorar regularmente a saúde dos animais.
  • Aplicar medidas preventivas rigorosas, como quarentenas e vacinação.
  • Garantir a limpeza e a desinfecção adequada das instalações.

11. Qual a relação entre biosseguridade e a Saúde Única?

O conceito de Saúde Única reconhece a interdependência entre a saúde animal, humana e ambiental. Isso significa que práticas inadequadas na pecuária leiteira podem impactar a segurança alimentar e a saúde pública, reforçando a necessidade de medidas eficazes de biosseguridade.

 

Este artigo foi inspirado no trabalho de  Bruno Guimarães – Técnico Equipe Leite Rehagro, publicado originalmente em: https://rehagro.com.br/blog/biosseguridade-na-pecuaria-leiteira-o-que-e-e-qual-a-sua-importancia/

 

Paulo Raffi e Luiz Eduardo Conte

Paulo Raffi e Luiz Eduardo Conte

BIOSSEGURIDADE.COM: Uma plataforma dedicada à biosseguridade para todas as espécies animais e vegetais, idealizada pelos veterinários Paulo Raffi e Luiz Eduardo Conte que juntos possuem mais de 60 anos de experiência no setor. Ambos compartilham o objetivo de conscientizar sobre a biosseguridade e contribuir para ambientes mais seguros na produção animal e vegetal, baseando-se na experiência prática acumulada e em estratégias empresariais e de comunicação eficazes para o crescimento da Biosseguridade.com.

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