US$ investe 500 milhões em biosseguridade: a aposta dos EUA contra a influenza aviária

A Secretária de Agricultura dos EUA, Brook Rollins, visitou uma instalação de postura de ovos da Cal-Maine Foods em Bogata, Texas. Pouco depois dessa visita, Rollins apresentou uma estratégia para combater a gripe aviária. foto: USDA

A resposta dos EUA ao surto de influenza aviária destaca uma lição clara: a biosseguridade é a principal linha de defesa para evitar impactos catastróficos na avicultura. O governo norte-americano anunciou um investimento emergencial de US$ 1 bilhão para combater influenza aviária, destinando metade desse valor (US$ 500 milhões) exclusivamente para medidas de biosseguridade. Esse investimento reforça a compreensão de que a melhor forma de mitigar os danos da gripe aviária é prevenir sua disseminação desde o início.

Se um país como os Estados Unidos, que já enfrenta prejuízos significativos e teve que abater milhões de aves, reconhece que o caminho mais eficaz é fortalecer as barreiras sanitárias, isso deve servir de alerta para o Brasil. Embora não tenhamos registrado surtos em granjas comerciais, já foram confirmados casos em aves silvestres e domésticas de subsistência nos últimos anos. O Brasil precisa agir antes que a situação se agrave e atinja as granjas produtivas. Esperar por um surto para reagir significa lidar com restrições comerciais, prejuízos econômicos e impactos na segurança dos alimentos. O momento de agir é agora.

Com isso em mente, vejamos as cinco frentes de ação que os EUA estão adotando para minimizar os impactos da influenza aviária e o que podemos aprender com elas.

1. Investimentos em biosseguridade: medidas estratégicas para conter a influenza aviária nos EUA

Os Estados Unidos estão priorizando a biosseguridade como a principal ferramenta de contenção da influenza aviária. Dos US$ 1 bilhão destinados ao combate da doença, US$ 500 milhões serão aplicados em ações preventivas para reduzir a propagação do vírus em instalações avícolas por meio de reforço nos protocolos de biosseguridade.

A justificativa para esse alto investimento é clara: 83% dos casos de IAAP (Influenza Aviária de Alta Patogenicidade) registrados nos EUA foram causados pela transmissão de aves silvestres, tornando essencial o fortalecimento de barreiras físicas e sanitárias para evitar que o vírus continue se espalhando.

Ampliação das avaliações de biosseguridade da vida selvagem

O USDA expandirá suas avaliações de biosseguridade da vida selvagem para todo o país, começando pelas granjas de postura de ovos. Essas avaliações foram altamente eficazes em controlar surtos anteriores. Entre as 150 instalações que já seguem esses protocolos nos EUA, apenas uma registrou um surto, comprovando a efetividade da estratégia.

As medidas adotadas incluem:

  • Monitoramento e restrição de contato com aves silvestres: Aplicação de novas práticas para minimizar a exposição das aves de criação ao vírus trazido por aves migratórias;
  • Auditorias de biosseguridade gratuitas: Para todas as granjas afetadas pela influenza aviária, garantindo que os protocolos preventivos estejam sendo seguidos;
  • Exigência de correção de falhas estruturais: Produtores que não corrigirem deficiências identificadas nas auditorias de biosseguridade poderão perder o direito a indenizações em caso de novos surtos.

Reforço na equipe de fiscalização e suporte técnico

Para garantir que as medidas sejam implementadas corretamente, 20 epidemiologistas especializados serão alocados pelo USDA para intensificar as auditorias e fornecer recomendações aos produtores. Esses especialistas terão o papel de:

  • Avaliar e aprimorar os protocolos de biosseguridade das granjas;
  • Orientar sobre formas de mitigar os riscos da transmissão por aves silvestres;
  • Monitorar potenciais vias de disseminação lateral do vírus entre as instalações.

A presença desses profissionais no campo garantirá respostas rápidas e eficazes para adaptar as práticas sanitárias às ameaças identificadas, reforçando ainda mais a proteção dos plantéis.

Compartilhamento de custos para correção de falhas

Para incentivar a adoção das medidas recomendadas, o governo dos EUA anunciou que cobrira até 75% dos custos para corrigir os problemas de biosseguridade de maior risco detectados nas auditorias e avaliações. O objetivo é garantir que os produtores tenham condições financeiras para implementar as melhorias necessárias, sem comprometer suas operações.

Essa iniciativa representa um compromisso claro dos Estados Unidos com a prevenção como a melhor estratégia para enfrentar a crise da influenza aviária. A decisão de alocar metade do orçamento total nesse setor demonstra que o país entende que ações preventivas são mais eficazes e menos onerosas do que lidar com surtos já estabelecidos.

O Brasil deve observar atentamente essa abordagem e considerar investimentos robustos em biosseguridade antes que um surto se torne uma realidade. Afinal, como mostram os EUA, agir depois de um surto é sempre mais caro e desafiador do que evitá-lo desde o início.

2. Indenização aos produtores afetados

Reconhecendo os prejuízos enfrentados pelos avicultores, o USDA destinará US$ 400 milhões para aumentar as taxas de pagamento aos produtores que precisam abater seus plantéis devido à influenza aviária. Essa medida visa aliviar o impacto econômico e acelerar o processo de repovoamento das granjas, garantindo a continuidade da produção e a estabilidade do mercado.

3. Investimento em pesquisa e desenvolvimento de vacinas

Reconhecendo a importância de soluções de longo prazo, US$ 100 milhões foram direcionados para pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a influenza aviária. Esse investimento busca acelerar a criação de imunizantes eficazes que possam ser utilizados preventivamente, reduzindo a incidência de novos casos e fortalecendo a resistência das aves ao vírus.

4. Redução de encargos regulatórios para mitigar os impactos da influenza aviária nos EUA

Diante do impacto da influenza aviária sobre a produção e o mercado de ovos nos Estados Unidos, o governo norte-americano reconheceu a necessidade de reduzir a carga regulatória sobre a indústria avícola para garantir o abastecimento e conter o aumento dos preços. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), em parceria com a Food and Drug Administration (FDA), está implementando estratégias para flexibilizar certas regulamentações e minimizar os prejuízos econômicos decorrentes da crise sanitária.

O objetivo principal dessas medidas é permitir que os produtores consigam ajustar suas operações de forma mais eficiente, reduzir o impacto financeiro sobre os consumidores e encontrar soluções inovadoras para evitar a despopulação excessiva de plantéis durante os surtos.

Minimização de encargos para pequenos produtores e consumidores

Além das grandes indústrias, os pequenos agricultores e produtores familiares também foram afetados pela influenza aviária. Muitos deles dependem da venda local de ovos e da produção doméstica para consumo próprio.

Para aliviar essa situação, o USDA minimizará as restrições e encargos regulatórios sobre pequenos produtores e consumidores individuais que colhem ovos cultivados em casa. Isso pode significar a isenção ou flexibilização de algumas exigências sanitárias para a comercialização em pequena escala, facilitando a venda direta ao consumidor final.

Essa medida visa reduzir o impacto econômico sobre comunidades rurais e consumidores de baixa renda que enfrentam dificuldades para adquirir ovos devido à alta dos preços.

Desenvolvimento de estratégias para limitar a despopulação em surtos

A atual estratégia de contenção da influenza aviária envolve, na maioria dos casos, a eliminação total dos plantéis afetados. No entanto, esse método gera impactos severos tanto no abastecimento quanto nos custos para os produtores e para o governo, que precisa indenizar os avicultores.

Pensando nisso, o USDA trabalhará junto com cientistas e produtores para desenvolver abordagens alternativas que permitam limitar o abate de aves durante os surtos de IAAP.

Essas novas estratégias podem incluir:

  • Uso de zonas de contenção e monitoramento em vez do abate total dos plantéis.
  • Aplicação seletiva de medidas sanitárias para reduzir a disseminação sem eliminar todas as aves.
  • Testes e pesquisas para validar a viabilidade da vacinação como alternativa ao extermínio dos plantéis infectados.

Essa abordagem representa uma mudança importante na maneira como surtos de influenza aviária são gerenciados, priorizando soluções que reduzam tanto o impacto econômico quanto as perdas produtivas da indústria avícola.

Esforços para corrigir disparidades regionais nos preços dos ovos

Além do impacto direto na produção, a crise da influenza aviária e os encargos regulatórios também contribuíram para variações significativas nos preços dos ovos entre diferentes regiões dos EUA. Um exemplo é a Califórnia, onde as políticas estaduais mais rigorosas sobre produção avícola, somadas à crise sanitária, resultaram em preços de ovos até 60% mais altos do que em outras partes do país.

O USDA pretende atuar diretamente nessa questão por meio de:

  • Educação do público e do Congresso sobre os efeitos das políticas regulatórias na variação dos preços dos ovos.
  • Incentivo a políticas que promovam maior estabilidade no mercado sem comprometer a segurança dos alimentos.
  • Monitoramento das cadeias de abastecimento para evitar que oscilações de preços prejudiquem consumidores de baixa renda.

Flexibilização das normas para aumentar a oferta no mercado de ovos

A gripe aviária teve um impacto direto na disponibilidade de ovos nos Estados Unidos, levando a aumentos expressivos nos preços. Para conter esse problema, o USDA está avaliando estratégias que possibilitem expandir a oferta de ovos no mercado comercial de forma segura.

Essa flexibilização regulatória pode incluir:

  • Ajustes nos padrões sanitários para comercialização de ovos provenientes de granjas afetadas pelo surto, desde que não representem riscos à saúde pública.
  • Redução da burocracia para redistribuição de ovos produzidos em pequenos sistemas de produção para o mercado convencional.
  • Aceleração dos processos de aprovação para novas medidas sanitárias e logísticas que facilitem a reposição do mercado.

Essas ações têm como finalidade garantir a segurança dos alimentos sem comprometer a cadeia produtiva, evitando escassez e controle de preços excessivamente rígido que possa prejudicar os consumidores.

5. Importação temporária de ovos para estabilizar o mercado interno dos EUA

A administração dos Estados Unidos reconheceu que a escassez de ovos no mercado interno e o aumento dos preços representam desafios significativos para os consumidores e para a indústria avícola. Como parte das estratégias para minimizar os impactos da influenza aviária, o USDA anunciou medidas emergenciais para ampliar as importações e reduzir as exportações de ovos, visando equilibrar a oferta no país.

Aumento das importações de ovos: o papel da Turquia no abastecimento dos EUA

Diante da crise, os EUA ampliaram suas importações de ovos, com destaque para a Turquia, que anunciou a exportação de 15.000 toneladas de ovos para os EUA até julho. Esse volume representa um salto significativo no abastecimento norte-americano, já que, normalmente, o país importa cerca de 70 milhões de ovos por ano da Turquia. Em 2025, esse número deverá atingir 420 milhões de ovos, fortalecendo o estoque interno e ajudando a conter os aumentos de preços.

Essa estratégia emergencial demonstra como o governo dos EUA está buscando diversificar suas fontes de abastecimento para evitar desabastecimento e especulação no mercado. A decisão de reduzir exportações também faz parte dessa lógica, garantindo que a produção local seja priorizada para atender à demanda doméstica.

Impacto nos preços e na reação dos consumidores

A escassez de ovos nos EUA levou a um aumento recorde nos preços, que quase dobraram desde o ano passado. Esse cenário tem incentivado os consumidores a comprarem em pânico, o que agrava ainda mais o problema de abastecimento. Segundo o economista Jadrian Wooten, da Virginia Tech, essa reação impulsionada pelo medo de desabastecimento contribui para uma volatilidade ainda maior no mercado.

Além disso, a inflação nos preços dos ovos tem sido sentida de forma desigual no país. Como citado anteriormente, estados como a Califórnia enfrentam aumentos de até 60% no preço dos ovos em comparação com outras regiões, devido à combinação de encargos regulatórios estaduais mais rigorosos e impactos diretos da gripe aviária.

A importância da prevenção no Brasil

A experiência norte-americana ressalta a necessidade de o Brasil intensificar suas medidas preventivas. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), em 15 de maio de 2023, foram notificadas as primeiras detecções do vírus da influenza aviária H5N1 de alta patogenicidade em aves silvestres no Brasil. Posteriormente, em 27 de junho do mesmo ano, foi confirmada a primeira detecção em uma criação de aves domésticas de subsistência no município da Serra, no estado do Espírito Santo.

Embora não haja registros em granjas comerciais, esses casos servem como um alerta para a vulnerabilidade do setor avícola nacional. Implementar medidas rigorosas de biosseguridade, investir em pesquisa e capacitar profissionais são passos essenciais para evitar que o país enfrente uma crise semelhante. A prevenção é a chave para proteger a economia, a saúde pública e garantir a continuidade das exportações brasileiras de produtos avícolas.

FAQ – Influenza aviária, biosseguridade e as medidas adotadas pelos EUA

Aqui estão algumas perguntas frequentes sobre a crise da influenza aviária nos Estados Unidos, os investimentos anunciados e o que o Brasil pode aprender com essa situação.

1. O que é a influenza aviária e por que ela preocupa tanto os produtores?

A influenza aviária é uma doença viral altamente contagiosa que afeta aves domésticas e silvestres. O vírus pode causar alta mortalidade nos plantéis e levar a severas restrições comerciais, impactando diretamente a economia do setor avícola.

2. Como os EUA estão lidando com o surto de influenza aviária?

O governo norte-americano anunciou um pacote de US$ 1 bilhão para combater a influenza aviária. Deste montante, US$ 500 milhões estão sendo investidos em biosseguridade, enquanto o restante será destinado à indenização de produtores afetados, pesquisa para o desenvolvimento de vacinas, redução de encargos regulatórios e importação emergencial de ovos.

3. O que significa biosseguridade e por que ela é tão importante?

Biosseguridade é o conjunto de práticas e medidas adotadas para prevenir a introdução e disseminação de doenças nas granjas. Isso inclui barreiras físicas, controle de acesso, testes de vigilância sanitária e treinamento para os produtores. Nos EUA, 83% dos surtos de influenza aviária estão associados à transmissão por aves silvestres, por isso o governo está investindo fortemente na melhoria das barreiras sanitárias para proteger as granjas.

4. Como os EUA estão investindo em biosseguridade?

As principais ações do governo norte-americano incluem:
✅ Expansão das avaliações de biosseguridade para todos os produtores do país.
✅ Auditorias gratuitas para garantir que as granjas sigam protocolos sanitários rigorosos.
✅ Aumento da fiscalização com 20 epidemiologistas especializados para orientar os produtores.
✅ Subsídio de até 75% dos custos para corrigir falhas de biosseguridade identificadas nas auditorias.

5. Os produtores afetados nos EUA estão recebendo algum apoio financeiro?

Sim. O governo dos EUA destinou US$ 400 milhões para indenizar os produtores que precisaram abater seus plantéis devido ao surto de influenza aviária. Essa compensação ajuda a minimizar os impactos financeiros e facilita o repovoamento das granjas.

6. Há investimentos em vacinas contra a influenza aviária?

Sim. US$ 100 milhões foram alocados para pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a gripe aviária. O governo dos EUA ainda avalia os impactos comerciais da vacinação antes de decidir se as vacinas serão amplamente utilizadas no setor avícola.

7. Como os EUA estão lidando com o impacto da crise no preço dos ovos?

O aumento dos preços dos ovos levou o governo a adotar duas medidas principais:
📌 Redução de encargos regulatórios para permitir maior flexibilidade na produção e comercialização.
📌 Importação emergencial de ovos, especialmente da Turquia, que fornecerá 420 milhões de ovos aos EUA em 2025 para tentar equilibrar a oferta e conter a alta dos preços.

8. O Brasil já registrou casos de influenza aviária?

Sim. Embora não haja surtos em granjas comerciais, foram confirmados casos em aves silvestres e domésticas de subsistência desde 2023. O primeiro foco em uma criação de subsistência foi registrado no Espírito Santo, em junho de 2023. Isso reforça a necessidade de medidas preventivas mais rigorosas.

9. O que o Brasil pode aprender com os EUA sobre a prevenção da influenza aviária?

O Brasil deve adotar medidas proativas para evitar que o vírus atinja a produção comercial. Algumas ações recomendadas incluem:
🔹 Investimentos em biosseguridade, como o fortalecimento das barreiras sanitárias.
🔹 Monitoramento intensificado, com mais testes e fiscalização em granjas e locais de risco.
🔹 Treinamento de produtores e técnicos para adoção de boas práticas de prevenção.
🔹 Pesquisa para o desenvolvimento de vacinas, caso a imunização seja adotada como estratégia de controle.

10. O Brasil corre o risco de enfrentar uma crise semelhante?

Se as medidas preventivas não forem reforçadas, o risco existe. A experiência dos EUA mostra que agir preventivamente é sempre mais barato e eficaz do que reagir a um surto já instalado. Por isso, é essencial que o Brasil aumente seus esforços em biosseguridade para proteger a avicultura nacional.

Fontes: Reuters, WATT Global Media

Paulo Raffi e Luiz Eduardo Conte

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BIOSSEGURIDADE.COM: Uma plataforma dedicada à biosseguridade para todas as espécies animais e vegetais, idealizada pelos veterinários Paulo Raffi e Luiz Eduardo Conte que juntos possuem mais de 60 anos de experiência no setor. Ambos compartilham o objetivo de conscientizar sobre a biosseguridade e contribuir para ambientes mais seguros na produção animal e vegetal, baseando-se na experiência prática acumulada e em estratégias empresariais e de comunicação eficazes para o crescimento da Biosseguridade.com.

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