A agropecuária brasileira registrou o quarto recorde consecutivo de emissões de gases de efeito estufa em 2023, com um aumento de 2,2%, segundo dados divulgados pelo Observatório do Clima nesta quinta-feira (7). O setor foi responsável por 28% das emissões brutas do Brasil no ano passado e, considerando as emissões decorrentes de mudanças no uso da terra, como desmatamento e queimadas, esse percentual sobe para 74% do total nacional.
O principal fator para o aumento nas emissões foi o crescimento do rebanho bovino, com destaque para a emissão de metano proveniente da fermentação entérica, como o “arroto do boi”, que totalizou 405 milhões de toneladas em 2023, superando as emissões totais da Itália. O analista de ciência do clima do Imaflora, Gabriel Quintana, explicou que o aumento nas emissões desde 2018 tem sido impulsionado pelo crescimento da produção e o uso de calcário e fertilizantes sintéticos, intensificando a pressão sobre a mitigação dos gases de efeito estufa no setor.
O estudo também revelou que o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) em 2023, representando uma queda de 12% em relação ao ano anterior, a maior redução percentual desde 2009. A diminuição no desmatamento na Amazônia foi apontada como a principal responsável por essa queda. No entanto, as emissões aumentaram em outros biomas, com destaque para o Pantanal (86%), o Cerrado (23%), e a Caatinga (11%).
Em termos globais, o Brasil permanece como o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, sendo o desmatamento um dos maiores responsáveis por essa posição, com 1,04 GtCO2e emitidos devido à devastação das florestas brasileiras. O estudo também indicou que, caso o Brasil fosse avaliado apenas pelas emissões causadas pelo desmatamento, o país seria o oitavo maior emissor global, atrás do Japão e à frente do Irã.
Além disso, o setor de energia também viu aumento nas emissões (1,1%), principalmente devido ao maior consumo de combustíveis fósseis, o que impactou também as emissões no setor de transporte, que teve um recorde histórico com alta de 3,2%. Em contrapartida, o setor de resíduos registrou um leve aumento de 1%, mas com avanços significativos em termos de acesso a serviços de saneamento.