Uma pesquisa conduzida pela professora Danielle Regina Gomes Ribeiro-Brasil, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), revelou que 98% dos peixes analisados em rios da bacia amazônica estão contaminados com microplásticos. O estudo, publicado como parte do relatório “Fragmentos da destruição: Impactos do plástico na biodiversidade marinha brasileira” pela Oceana Brasil, destaca a poluição plástica como uma preocupação ambiental que não se limita apenas ao agronegócio.
O artigo de Ribeiro-Brasil, intitulado “Dos rios e mares à mesa: peixes contaminados”, chamou a atenção para a grave ameaça que a contaminação por plástico representa, refletindo sobre a responsabilidade de todos os setores da sociedade, especialmente a população urbana. Embora o agronegócio seja frequentemente acusado de causar danos ambientais, a pesquisa demonstra que a poluição oriunda de centros urbanos é uma fonte significativa de contaminação, afetando a biodiversidade aquática.
O estudo analisou 68 peixes de 14 espécies coletados em 12 riachos amazônicos e encontrou microplásticos em 67 deles. Os principais tipos de plástico identificados foram polietileno, polipropileno e poliestireno, que representam 90% dos microplásticos encontrados. Ribeiro-Brasil explica que peixes que vivem em ambientes com alta movimentação de sedimentos estão mais vulneráveis, já que se alimentam de organismos que acumulam microplásticos no fundo dos rios.
A pesquisa também convida a uma reflexão crítica sobre a atribuição de responsabilidade pela poluição. Embora a agricultura contribua com resíduos plásticos, a população urbana, como consumidora de produtos industrializados, gera um volume considerável de plástico descartável, frequentemente de forma inadequada. Isso resulta em acúmulo de plástico em aterros e corpos d’água, prejudicando a fauna e flora locais.
Segundo o relatório da Oceana, o Brasil despeja anualmente 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos, tornando-se o oitavo maior poluidor plástico do mundo. Iran Magno, analista de campanhas da Oceana, destacou a necessidade de repensar a produção de plástico, enfatizando a urgência de medidas para reduzir a poluição e proteger a saúde pública.
A pesquisa de Ribeiro-Brasil serve como um alerta sobre a necessidade de responsabilidade compartilhada na luta contra a poluição por plástico, envolvendo tanto consumidores urbanos quanto setores produtivos. O estudo reforça a importância da conscientização sobre os impactos da poluição nos ecossistemas de água doce e na saúde das comunidades que dependem desses recursos, destacando que a mudança deve vir de todos.